Andei
pelos vales mais desolados, pelos campos devastados de uma terra em guerra,
homens que destruindo seus iguais, dizimando as esperanças de seu próprio povo,
buscava o templo em que minhas orações fossem ouvidas, onde a chacina cessasse,
onde a distancia entre mim e as estrelas fosse apenas uma linha tênue, e por
milhas meus pés me levaram, por tato tempo e tão longo caminho que minhas botas
sumiram sob meus pés, os medos se
perderam, sangue de inocentes, banal,
sacrificado aos deuses da
ganância, mais numa noite de um céu pintalgada de estrelas ofuscantes, num
campo abandonado em que campânulas cresciam desordenas, um ponto luminoso
oscilou e riscou o firmamento, meus olhos o seguiram, ate desaparecer no topo
de uma montanha de rochas sombrias.
A
noite passou veloz enquanto com mãos e
pés galgava meu caminho pela rocha fria, e quando por fim alcancei o cume, o
vento gélido me golpeou tomando o pouca ar que tinha e fazendo me oscilar a
beira do penhasco, relutante, me pus de pé,
olhando a distancia que mergulhava num vale coberto de véu
esbranquiçado, e ali na neblina uma
sombra, um amontoado de rochas, que no alvorecer o rubor tomou por assalto, o
vapor fazendo a pálida rocha tremeluzir com seus raios dourados, uma mistura de
cristais e ouro cobriam tudo.
Na
semi escuridão do dia que nascia caminhei lenta e temerosamente, vacilando numa
trilha disforme de capim alto, meus olhos vagavam, os sussurros dos ventos,
cantos de lamento cresciam a meu redor, na terra nua que se seguia ao portal de
pedras altas e pálidas, meio sombra, meio breu, ajoelhei-me e com as mãos na
terra fria, deixei que o sussurro me levasse.
O
sol, invadiu minha solidão, raios dourados varavam minhas trevas, trazendo
calor ao interior das pedras que me cercavam, minhas orações, jaziam em meu
peito, pesadas, e quando por fim a luz me tocou, percebi que o único templo no
qual seriam ouvido, de onde viria minha resposta, residia no peito da aurora de meus devaneios,
de meu amor pagão, que estremeceu minha carne com seu sonho.
E
mais uma vez pude ver seus olhos, que me viam de dentro para fora, que sentiam
meus medos, ouviam meus sussurros, que seguiam em mim não importa o qual
distante eu fosse.